Tuesday, November 20, 2012

Qualificação como advogado holandês

No Brasil, para se qualificar como advogado, o interessado deverá, obrigatoriamente, ser diplomado em Direito no Brasil, ou ter seu título acadêmico obtido no exterior revalidado por instituição oficial de ensino brasileira, além de se registrar junto à Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, após aprovação no exame profissional, independente da área do direito em que quiser atuar, na consultoria ou no contencioso, e do ramo (por exemplo, direito civil, trabalhista, administrativo, tributário e outros).

Na Holanda, existem diferentes processos de qualificação como advogado, dependendo da área do direito em que o interessado quiser atuar. O advogado pode ser qualificado como:“jurist”, “advocaat”, “belastingadviseur” ou “notaris”.

O bacharelado em Direito holandês tem a duração de três anos (período integral) e o estudante deverá escolher entre três tipos de curso: bacharelado em Direito, bacharelado em Direito Notarial ou bacharelado em Direito Tributário. Após o término do bacharelado, o estudante deverá obrigatoriamente obter o titulo de mestre em Direito. O mestrado tem a duração de um ano e o estudante poderá escolher a área de especialização.

Após a obtenção dos títulos de bacharel e mestre em Direito holandês (diploma com o chamado “civiel effect”),  o interessado estará qualificado como “jurist” e poderá então se registrar junto à Associação de Juristas Holandeses (“Nederlandse Juristen Vereniging”) ou associações específicas para aqueles que atuam como advogados de empresas.

Caso queira se qualificar como “advocaat” na área do direito civil, o interessado, após obter o diploma “civiel effect”, deverá se candidatar como “advocaat-stagiaire” junto a um escritório de advocacia e se registrar junto à Ordem dos Advogados (“Nederlandse Orde van Advocaten”). O contrato de trabalho terá duração de três anos e o interessado será supervisionado por um mentor. O interessado deverá ainda seguir um curso de formação profissional (“beroepsopleiding”) durante todo o período.

Os advogados qualificados como “jurist” ou “advocaat” atuam em áreas diferentes.  Todo “advocaat” é um “jurist”, mas nem todo “jurist” é um “advocaat”. Alguns “juristen” irão atuar como consultores, advogados de empresas ou perante tribunais em casos permitidos por lei (por exemplo, pequenas causas, casos envolvendo direito trabalhista, administrativo ou de imigração e outros). Em alguns casos, a atuação de um “advocaat” é obrigatória como, por exemplo, atuação perante os tribunais de primeira e segunda instância e corte superior. Em caso de dúvida sobre a atuação de um “jurist” ou “advocaat”, é sempre recomendável consultar a Associação de Juristas Holandeses ou a Ordem dos Advogados.

Para se qualificar como consultor tributário (“belastingadviseur”), o interessado, após obter o diploma “civiel effect” na área de direito tributário, deverá seguir o curso de formação profissional com duração de três anos oferecido pela Ordem dos Consultores Tributários (“Nederlandse Orde van Belastingadviseurs”).

Para se qualificar como tabelião (“notaris”), o interessado, após obter o diploma “civiel effect” na área de direito notarial, deverá se candidatar como “kandidaat-notaris” junto a um escritório de advocacia. O contrato de trabalho terá duração de seis anos e o interessado deverá seguir um curso de formação profissional com duração de três anos junto à Organização Real Notarial (“Koninklijke Notariele Beroepsorganisatie”). A atuação como tabelião na Holanda é diferente da atuação dos tabeliães e cartórios no Brasil. Para mais informações, entre em contato com a Organização Real Notarial.


Mais informações sobre o processo de qualificação (em holandês):

Associação dos Juristas Holandeses www.njv.nl

Ordem dos Advogados www.advocatenorde.nl
Para verificar o registro de advogados junto à Ordem de Advogados, consulte www.alleadvocaten.nl

Ordem dos Consultores Tributários www.nob.net

Organização Real Notarial www.knb.nl

Sunday, October 14, 2012

Dica para entrevista: linguagem corporal

O estudo da linguagem corporal pode trazer benefícios incríveis tanto na área profissional como na sua vida pessoal. Para quem não conhece, esse estudo pode ser uma ferramenta excelente para reuniões de trabalho, negociações e em várias outras situações de interação social. Mas antes de analisar a linguagem corporal das outras pessoas, vale a pena focar nas mensagens que o seu corpo está enviando sem você nem perceber!

Eu converso muito com outros advogados brasileiros aqui na Holanda que estão passando pela fase de entrevista de trabalho. Aquela fase que quem se mudou para um novo país entende muito bem: depois de receber vários "não", você é finalmente convidado para uma entrevista de trabalho. O problema é que depois da fase do "não" a ansiedade e a falta de auto-confiança podem atrapalhar muito! É extremamente importante uma preparação emocional para que você possa passar uma energia boa durante a entrevista. Eu brinco que às vezes é a mesma situação da pessoa solteira, desesperada para encontrar um namorado(a) e que chega num bar com aquela energia de "estou à caça!". Muito provavelmente as outras pessoas vão sair correndo assim que a pessoa se aproximar. Chegar com muita sede ao pote não é saudável! ;) Eu sempre tento dar algumas dicas para alguns advogados que estão se preparando:
- o mais importante é: não se apegue ao resultado. O que é seu, ninguém vai tomar. If it's meant to be, it will be!
- enquanto você estiver no trem à caminho da entrevista, escreva no papel algumas de suas qualidades e suas conquistas. O foco deve ser SEMPRE no positivo!
- antes de entrar no escritório, respire fundo, melhore a postura, visualize a entrevista acontecendo de uma maneira bem positiva e entre com confiança e muita energia boa!

Na semana passada, eu assisti esse vídeo da Amy Cuddy (palestras do TED que por sinal são uma ótima dica para encontrar inspiração!) que dá uma dica ótima no final do vídeo e que pode (e deve!) ser usada para uma entrevista de trabalho.



Boa sorte!

Joyce


Wednesday, September 5, 2012

E chegamos à entrevista: depois do expediente!


Guest Post por Jaime Lima 


Para minha surpresa, o entrevistador me solta um:

- O que você faz nas suas horas vagas? Tem um hobby?

Gaguejei, óbvio. Falo de minhas coleções de selos? Talvez meu gosto pela leitura de romances policiais seja mais démodé do que um show da Banda Calypso.  E esta bomba vem no fim da entrevista, com qualificações e histórico profissional já amplamente discutidos. Eu, velho de guerra, aguardava um desfecho padrão.  Por que diabos o empregador holandês quer saber o que eu faço no meu tempo livre?

Há várias possíveis explicações. A primeira (padrão) seria garantir que o funcionário é uma pessoa equilibrada que não vive só para o trabalho. Um viciado em trabalho pode ter um treco por exagerar na dose de tarefas a que se propõe e, no final das contas, causar prejuízo à empresa. Mas, cá entre nós, eu acho que esta é uma meia verdade.

Na prática custa caríssimo demitir alguém na Holanda antes do fim do contrato de trabalho. Ou seja, é preferível contratar o funcionário por três meses e testá-lo. Se o camarada for “um mala”, a empresa vai ter de aguentá-lo até o fim do contrato. Demiti-lo sem justa causa pode ser uma imbecilidade financeira. 
Em suma: as perguntas de caráter “fale me sobre como sua vida é divertida” servem mesmo para classificar a personalidade do candidato. Mais ainda, elas servem para determinar se ele se encaixa no time, tendo grandes afinidades com os demais colegas.     

Minha vasta (e doida) experiência revela que a perguntas deste tipo mais recorrentes são:

·       Que língua você fala na sua casa? O objetivo é saber se seu holandês ou inglês estará constantemente sendo melhorado pelo uso diário. O ideal é dizer que a língua de casa é a língua usada no trabalho. Mas isso nem sempre é o caso. De todo modo, há várias maneiras de responder de um modo positivo. “Falamos português em casa,  mas mesmo assim estudo holandês três vezes por semana porque desejo sempre melhorar meu comando da língua”.
·       Você faz algum esporte? Sim, esporte é saúde e também revela algo sobre sua personalidade. Você prefere esportes coletivos, competitivos ou caminhadas solitárias contemplativas? Percebe-se que nas áreas comerciais, esportes competitivos são vistos com simpatia.
·       Quais são seus hobbies? Tal como os esportes, seus passatempos também falam sobre sua personalidade. Com um detalhe importante: hobbies podem justificar uma mudança de carreira.  Por exemplo, “Estudei  literatura na faculdade e hoje este é meu grande hobby. Minha  paixão profissional, porém, é a área de Recursos Humanos e tenho desenvolvido minha carreira nesta área”.

Ou seja, ninguém precisa saber que estilo musical você dança nos embalos de sábado à noite. Mesmo assim, para a próxima entrevista, vale pensar com antecedência quais de seus interesses não profissionais auxiliam seus argumentos enquanto candidato. Não vale inventar uma repentina paixão por geologia só para ganhar uma vaguinha na Shell. Mas nada impede que você fale de seu talento para fazer cupcakes.  Porque, pra mim, isso sim é um bom argumento para ser contratado!  

Enfim, a regra de ouro número 2 é: use seus interesses pessoais para construir um perfil profissional de sucesso!

VII Encontro dos Advogados Brasileiros na Holanda

O VII Encontro dos Advogados Brasileiros na Holanda aconteceu no dia 20 de maio de 2012 no Café Balie em Amsterdam. Participaram do encontro: Josiana, Joyce, Jaime, Marta, Bernardo e Samantha. Apesar do clima holandês frio e chuvoso que não colaborou, tivemos uma tarde bastante agradável! O próximo encontro deve acontecer em setembro ou outubro. Aguardem!

Monday, May 7, 2012

E chegamos à entrevista: o super qualificado!


Guest Post por Jaime Lima


Ser entrevistado para um emprego no exterior é sempre um grande desafio. Na Holanda isto também é verdade. A convite do Advogados Brasileiros na Holanda, escrevo uma pequena série de posts sobre as práticas problemáticas mais comuns em entrevistas. Aquelas coisas que dizemos – ou não - que criam confusões ou são contraproducentes na hora de ganhar a vaga. Pessoalmente, acredito que sou qualificado para a tarefa: possuo um curriculo muito bom e, acima de tudo, tenho vasta experiência em “me dar mal” em entrevistas. Falo, portanto, com propriedade.

Ao falar de entrevistas, obviamente surge primeiro a questão linguística. Sim, falar holandês é um fator importantíssimo. Ponto final. Para posições fundamentalmente internacionais, talvez só o inglês baste. Mas atenção: espera-se um excelente conhecimento do inglês. Me Tarzan, You Jane... won’t do.

Aqui, porém, o foco é a pouquíssimo discutida questão cultural. Ou seja, as ideias e concepções que os brasileiros e holandeses têm sobre como expor qualificações e experiências profissionais da melhor maneira possível. Em suma,  tentaremos mapear quais são os elementos que podem ajudar os candidatos a serem persuasivos da maneira certa. Aquilo que funciona no Brasil não necessariamente será um sucesso nestas terras batavas.

E começando com o pé direito: o super qualificado

Intuitivamente, o mercado brasileiro parece premiar qualificação e formação. Nos fóruns sempre vemos papéis timbrados onde se lê: “Dr João da Silva – Mestre em Direito Civil pela Universidade X”. Maravilhoso, não? Porque o suprassumo brasileiro é um candidato que não só fala inglês, mas também alemão. Certo? Talvez isso decorra da constante escassez de mão de obra qualificada. Talvez o empregador brasileiro valorize mais o potencial que um funcionário terá no longo prazo. Não sei. O fato é que os candidatos brasileiros utilizam frequentemente a tática de se mostrar com conhecimentos e experiência de sobra para a vaga que disputam!

Vai por mim: aqui isto pode ser um tiro no pé. O mercado de trabalho holandês é bem compartimentado: os recrutadores procuram o candidato mais adequado para a vaga. O mais adequado, não é necessariamente o mais qualificado. O conceito básico é o de denk niveau (trata-se de uma vaga para ensino médio ou superior?) e recrutadores começam avaliando por aí.  No sistema holandês é muito difícil – ainda que não impossível – convencer um recrutador a contratar um auxiliar administrativo com um mestrado em Filosofia do Direito. Por quê? O empregador holandês acredita, com certa razão, que um candidato que tenha qualificações de sobra não trabalhará por muito tempo num emprego “que não motive” o trabalhador. Logo, será necessário recrutar outra pessoa em breve.

Isto nem sempre é verdade. E nem sempre o candidato pensa assim. Aliás, brasileiros são os reis da flexibilidade. Pessoalmente, sou da teoria do “pagando bem, que mal tem”.  Intuitivamente, muitos creem que começar num emprego mais simples pode ser o primeiro passo rumo ao topo da pirâmide corporativa. Pode ser, não pode?

De todo modo, persuasão é fazer o outro colaborar com seus objetivos. Assim sendo, a melhor estratégia parece ser uma candidatura precisa e sem exageros. Procure montar o seu CV e conduzir a entrevista de modo a se aproximar ao máximo das exigências da vaga. Mas evite ir além!

O empregador procura um paralegal que fale português? Ótimo, fale de sua formação jurídica no Brasil e de como a língua e a legislação brasileira são de seu conhecimento.  Talvez não seja necessário dizer que você passou em primeiro lugar num concurso do Tribunal de Justiça do seu estado. Nem mencionar que você fala russo fluente também.

O ideal parece ser bastante pontual, especificando como você se encaixa perfeitamente na descrição da vaga. Sua motivação pessoal e personalidade caem como uma luva na medida em que você acha o trabalho interessante.

Enfim, a regra de ouro número 1 é: não serás nem menos nem mais do que a vaga requer!