Guest Post por Jaime Lima
Ser entrevistado para um emprego no
exterior é sempre um grande desafio. Na Holanda isto também é verdade. A convite do Advogados Brasileiros na
Holanda, escrevo uma pequena série de posts sobre as práticas problemáticas
mais comuns em entrevistas. Aquelas coisas que dizemos – ou não - que criam
confusões ou são contraproducentes na hora de ganhar a vaga. Pessoalmente, acredito
que sou qualificado para a tarefa: possuo um curriculo muito bom e, acima de
tudo, tenho vasta experiência em “me dar mal” em entrevistas. Falo, portanto,
com propriedade.
Ao falar de entrevistas, obviamente surge primeiro a questão linguística. Sim, falar holandês
é um fator importantíssimo. Ponto final. Para posições fundamentalmente
internacionais, talvez só o inglês baste. Mas atenção: espera-se um excelente
conhecimento do inglês. Me Tarzan, You
Jane... won’t do.
Aqui, porém, o
foco é a pouquíssimo discutida questão cultural. Ou seja, as ideias e
concepções que os brasileiros e holandeses têm sobre como expor qualificações e
experiências profissionais da melhor maneira possível. Em suma, tentaremos mapear quais são os
elementos que podem ajudar os candidatos a serem persuasivos da maneira certa.
Aquilo que funciona no Brasil não necessariamente será um sucesso nestas terras
batavas.
E começando com o
pé direito: o super qualificado
Intuitivamente, o mercado brasileiro parece
premiar qualificação e formação. Nos fóruns sempre vemos papéis timbrados onde
se lê: “Dr João da Silva – Mestre em Direito Civil pela Universidade X”.
Maravilhoso, não? Porque o suprassumo brasileiro é um candidato que não só fala
inglês, mas também alemão. Certo? Talvez isso decorra da constante escassez
de mão de obra qualificada. Talvez o empregador brasileiro valorize mais o
potencial que um funcionário terá no longo prazo. Não sei. O fato é que os candidatos
brasileiros utilizam frequentemente a tática de se mostrar com conhecimentos e
experiência de sobra para a vaga que disputam!
Vai por mim: aqui isto pode ser um tiro no
pé. O mercado de trabalho holandês é bem compartimentado: os recrutadores
procuram o candidato mais adequado para a vaga. O mais adequado, não é
necessariamente o mais qualificado. O conceito básico é o de denk niveau (trata-se de uma vaga para
ensino médio ou superior?) e recrutadores começam avaliando por aí. No sistema holandês é muito difícil –
ainda que não impossível – convencer um recrutador a contratar um auxiliar
administrativo com um mestrado em Filosofia do Direito. Por quê? O empregador holandês acredita,
com certa razão, que um candidato que tenha qualificações de sobra não
trabalhará por muito tempo num emprego “que não motive” o trabalhador. Logo, será
necessário recrutar outra pessoa em breve.
Isto nem sempre é verdade. E nem sempre o
candidato pensa assim. Aliás, brasileiros são os reis da flexibilidade.
Pessoalmente, sou da teoria do “pagando bem, que mal tem”. Intuitivamente, muitos creem que
começar num emprego mais simples pode ser o primeiro passo rumo ao topo da
pirâmide corporativa. Pode ser, não pode?
De todo modo, persuasão é fazer o outro
colaborar com seus objetivos. Assim sendo,
a melhor estratégia parece ser uma candidatura precisa e sem exageros. Procure
montar o seu CV e conduzir a entrevista de modo a se aproximar ao máximo das
exigências da vaga. Mas evite ir além!
O empregador procura um paralegal que fale português? Ótimo,
fale de sua formação jurídica no Brasil e de como a língua e a legislação
brasileira são de seu conhecimento.
Talvez não seja necessário dizer que você passou em primeiro lugar num
concurso do Tribunal de Justiça do seu estado. Nem mencionar que você fala
russo fluente também.
O ideal parece ser bastante pontual, especificando como você se encaixa
perfeitamente na descrição da vaga. Sua motivação pessoal e personalidade
caem como uma luva na medida em que você acha o trabalho interessante.
Enfim, a regra de ouro número 1 é: não
serás nem menos nem mais do que a vaga requer!
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