Guest Post por Jaime Lima
Para minha surpresa, o entrevistador me solta
um:
- O que você faz nas suas horas vagas? Tem um
hobby?
Gaguejei, óbvio. Falo de minhas coleções de
selos? Talvez meu gosto pela leitura de romances policiais seja mais démodé do que um show da Banda
Calypso. E esta bomba vem no fim
da entrevista, com qualificações e histórico profissional já amplamente
discutidos. Eu, velho de guerra, aguardava um desfecho padrão. Por que diabos o empregador holandês
quer saber o que eu faço no meu tempo livre?
Há várias possíveis explicações. A primeira
(padrão) seria garantir que o funcionário é uma pessoa equilibrada que não vive
só para o trabalho. Um viciado em trabalho pode ter um treco por exagerar na
dose de tarefas a que se propõe e, no final das contas, causar prejuízo à empresa. Mas, cá entre nós, eu acho que esta é uma meia
verdade.
Na prática custa caríssimo demitir alguém na
Holanda antes do fim do contrato de trabalho. Ou seja, é preferível contratar o
funcionário por três meses e testá-lo. Se o camarada for “um mala”, a empresa
vai ter de aguentá-lo até o fim do contrato. Demiti-lo sem justa causa pode ser
uma imbecilidade financeira.
Em suma: as perguntas de caráter “fale me
sobre como sua vida é divertida” servem mesmo para classificar a personalidade
do candidato. Mais ainda, elas servem para determinar se ele se encaixa no
time, tendo grandes afinidades com os demais colegas.
Minha vasta (e doida) experiência revela que a
perguntas deste tipo mais recorrentes são:
·
Que língua você fala na sua casa? O objetivo é
saber se seu holandês ou inglês estará constantemente sendo melhorado pelo uso
diário. O ideal é dizer que a língua de casa é a língua usada no trabalho. Mas
isso nem sempre é o caso. De todo modo, há várias maneiras de responder
de um modo positivo. “Falamos português em casa, mas mesmo assim estudo holandês três vezes por semana porque
desejo sempre melhorar meu comando da língua”.
·
Você faz algum esporte? Sim, esporte é saúde e
também revela algo sobre sua personalidade. Você prefere esportes coletivos,
competitivos ou caminhadas solitárias contemplativas? Percebe-se que nas áreas
comerciais, esportes competitivos são vistos com simpatia.
·
Quais são seus hobbies? Tal como os esportes,
seus passatempos também falam sobre sua personalidade. Com um detalhe
importante: hobbies podem justificar
uma mudança de carreira. Por
exemplo, “Estudei literatura na
faculdade e hoje este é meu grande hobby. Minha paixão profissional, porém, é a área de Recursos Humanos e
tenho desenvolvido minha carreira nesta área”.
Ou seja, ninguém precisa saber que estilo
musical você dança nos embalos de sábado à noite. Mesmo assim, para a próxima
entrevista, vale pensar com antecedência quais de seus interesses não
profissionais auxiliam seus argumentos enquanto candidato. Não vale inventar
uma repentina paixão por geologia só para ganhar uma vaguinha na Shell. Mas nada
impede que você fale de seu talento para fazer cupcakes. Porque, pra
mim, isso sim é um bom argumento para ser contratado!
Enfim, a regra de ouro número 2 é: use seus
interesses pessoais para construir um perfil profissional de sucesso!
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